domingo, 8 de julho de 2012
FESTA DOS ORIXÁS XANGÔ & OGUM::ILÊ ASÉ SANGO IBONÃ::15/07::CABO DE SANTO AGOSTINHO-PERNAMBUCO-BRASIL.
Conhecido como o rei de Oyó, Xangô é um poderoso orixá que tem o controle sobre os raios e trovões, e que também expele fogo pela boca. Quando fora rei, segundo a lenda, Xangô não poupava esforço para conquistar outros territórios para o seu poderoso reino. Apesar de ser guerreiro e muito violento, fazia questão de tratar com justiça todas as questões que apareciam entre os seus súditos.
Certa vez, interessado em buscar novas armas de conquista, o rei Xangô pediu para que sua esposa, Iansã, trouxesse uma poção mágica do reino dos baribas. No caminho de volta para casa, ela não resistiu à própria curiosidade e experimentou o líquido poderoso que carregava na cabaça. Sentido um gosto terrível na boca, cuspiu a poção. Entretanto, ao invés de expelir o líquido, ela soltou uma grande labareda.
Ao saber da novidade, Xangô ficou empolgado e vaidoso com a nova arma. Em pouco tempo, decidiu exercitar os poderes daquele fantástico encantamento. Enquanto Xangô utilizava a poção, o povo morria de medo dos enormes estrondos e do brilho causado pelas chamas. O barulho produzido pela incrível arma ficou conhecido como trovão. Em contrapartida, o brilho das chamas ganhou o nome de raio.
Em mais um dia que testava o poder do fogo, Xangô acabou provocando um enorme incêndio que destruiu toda a cidade de Oyó. Mesmo não tendo a intenção, os sacerdotes resolveram retirá-lo do governo e obrigá-lo a se suicidar na floresta. Após cumprir a pena, ninguém encontrou os restos mortais do antigo rei. Naquele instante, vários boatos sugeriram que os deuses teriam transformado Xangô em orixá.
Com o passar do tempo, toda vez que os trovões e relâmpagos tomavam os céus, o povo de Oyó lembrava que seu rei continuava vivo. Nos vários rituais afro-brasileiros, Xangô aparece com um machado de duas faces por causa de sua inclinação guerreira. Paralelamente, o domínio dos raios e trovões também se associou a essa prestigiada divindade africana.
No Brasil, observamos que vários santos católicos estão diretamente associados ao culto a Xangô. São Jerônimo, usualmente se aproxima de Xangô por estar próximo ao leão, um animal que reafirma a condição de realeza para os africanos. Também podemos assinalar a celebração a Xangô no dia de São Pedro, considerado um guardião dos céus, equivalente ao orixá.
Ogum é um orixá costumeiramente associado à guerra e ao fogo. Sendo geralmente representado sob a figura de um guerreiro, Ogum estabelece um arquétipo de luta e conquista aos que se dedicam à sua adoração. Seu grau de importância é tamanho, pois ele é o orixá que possui maior proximidade com os seres humanos depois de Exu. Conhecedor de segredos, ele sabe muito bem como fabricar os instrumentos necessários para a batalha e para o trabalho com a terra.
Por conta dessas habilidades, observamos que as várias representações dessa divindade costumam colocá-lo empunhando uma espada, uma enxada ou uma pá. De acordo com a mitologia africana, Ogum era filho do rei Odudua, fundador da cidade de Ifé. Apesar de viver os privilégios de um príncipe, Ogum era uma figura bastante inquieta e gostava muito de representar seu pai nas lutas pela conquista de novos territórios. Logo assim, ele se tornou uma divindade que inspira a constante tomada de atitudes.
Nas várias descrições que tentam falar sobre Ogum, percebemos que o mesmo aglomera um claro universo de comportamentos impulsivos e, ao mesmo tempo, pragmáticos. Ao mesmo tempo em que luta com bravura e se entrega ao amor intensamente, Ogum também é bastante reconhecido pelo seu gosto pela presença dos amigos e a alegria de viver. Apesar de ser tão temperamental como seu irmão, o orixá Exu, este não possui a mesma sagacidade e malícia.
As oferendas dedicadas a Ogum são costumeiramente organizadas durante as terças-feiras, dia em que é feita sua consagração. Praticamente todas as danças que evocam a figura deste orixá são marcadas por gestos de luta. Além disso, os alimentos que são elaborados para suas oferendas não possuem uma preparação muito complexa. No ritual jeje, Ogum é equivalente ao vodum Doçu. Já entre os praticantes do rito angola, esse mesmo orixá é conhecido como Roxo Mucumbe ou Incoce.
Em terras brasileiras, Ogum acabou sendo facilmente associado à história dos vários santos guerreiros que integram o cristianismo. Nessa situação sincrética, acabou sendo relacionado à imagem de São Jorge, principalmente na cidade do Rio de Janeiro. Essa aproximação pode ser historicamente reconhecida na Guerra do Paraguai, quando vários negros participantes do conflito professaram que a vitória na Batalha de Humaitá teria sido fruto da proteção do santo que simbolizava o orixá.
Texto de Rainer Sousa - historiador da equipe Brasil Escola.