segunda-feira, 17 de março de 2014

"CASARÃO"::JOANA VASCONCELOS::CASA TRIÂNGULO::31/03::SÃO PAULO-BRASIL.


A exposição Casarão marca o regresso de Joana Vasconcelos à Casa Triângulo, uma década após a sua última exposição na galeria e depois do êxito recente das exposições realizadas no Palácio de Versailles e na Bienal de Veneza. A mais jovem artista e a primeira mulher a expor em Versailles volta ao Brasil, seis anos depois de Contaminação, a monumental intervenção que apresentou na Pinacoteca do Estado de São Paulo.

Casarão propõe a invasão do espaço da galeria por um conjunto de animais em faiança, desenhados por um dos mais destacados artistas portugueses do séc. XIX, Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905). Joana Vasconcelos apropriou-se de alguns animais do vasto bestiário Bordaliano e apresenta-os ambiguamente protegidos, ou aprisionados/domesticados, por uma sensual malha em croché.

Equipamentos de casa de banho servem as obras Medusa e Água Viva. A primeira apresenta-se sob a forma de um pequeno lavatório onde passam e atravessam extensões de invulgares volumes em croché. Água Viva exibe dois chuveiros instalados na parede, ligados entre si por festivas mangas têxteis, suspensas como se escapassem por onde antes veríamos cair água. São talvez as entranhas da arquitetura ou as vísceras da nossa intimidade doméstica, metamorfoseadas em têxteis desafiadores da ordem racional do espaço arquitetônico.

Três caixas – Catuaba, Delícia, e Cravo e Canela – revestidas em azulejo, encontram-se dispostas na parede, à altura do nosso olhar, tal como pinturas que outrora se exigiam serem janelas abertas ao mundo. Do seu interior, irrompem volumes têxteis abstratos; formas não reconhecíveis, mas cujos materiais, texturas e técnicas identificamos.

Sarabande desafia os limites entre pintura e escultura, corpo e paisagem, o figurativo e o abstrato. Através de uma exuberante moldura, de inspiração barroca, escapam coloridas formas em croché que insinuam uma topografia acidentada, ou os corpos volumosos de um inusitado universo burlesco de sentido doméstico.

O popular jogo eletrônico Tetris dá nome à série onde se inscreve a obra Aquarela. Os volumes paralelepípedos, revestidos em azulejo, são atravessados e serpenteados por tubos e protuberâncias em croché e tecidos variados. A rigidez da cerâmica é invadida por maleáveis formas orgânicas têxteis, num feliz encontro de apostos, unidos pela cor.

Casarão oferece-nos o doméstico como espaço de encontro e confronto entre o privado e o público, masculino e feminino, artesanal e industrial, cultura popular e cultura erudita. Joana Vasconcelos é a anfitriã que nos recebe neste seu lugar tão familiar, mas ironicamente desafiador de todas as rotinas programadas do cotidiano.

Casa Triângulo
Vernissage para convidados da exposição "Casarão" de Joana Vasconcelos.
Segunda-feira, dia 31 de março das 18h às 21h.
Rua: Paes de Araujo, 77 - 04.531-090 - São Paulo.