sexta-feira, 28 de junho de 2013

GALERIA CAFÉ CASTRO ALVES::RUA DO LIMA-SANTO AMARO::RECIFE-BRASIL.

Fico pensando em quais lutas o poeta Castro Alves se envolveria nos dias atuais, em pleno século 21. Motivos para guerrear com as palavras não faltam neste mundo. 

Esse poeta de vida curta, amores intensos, com sede de justiça no discurso e na atitude, é a inspiração de um café que funciona na Rua do Lima, 280, em Santo Amaro no Recife. 


A Galeria Café Castro Alves inicia os trabalhos, às 18h. O Café opera de segunda à quarta, das 12h às 18h e de quinta-feira à sábado, das 12 às 22h, para almoço, lanche e happy hour. 


A casa está Linda. Passou por uma baita reforma. Os méritos são da chef Lua Lima e do fotógrafo Helder Ferrer, que cuidaram de cada detalhe para que o local ganhasse uma atmosfera descontraída, confortável e elegante. Adorável... 

 
É a mesma casa que abrigou o Muda. E há indicações de que aquela casinha branca também deu guarida para o romance do bardo baiano, quando ele estudava no Recife. 

Passa lá hoje, amanhã, depois, ou qualquer dia destes para tomar um café, almoçar, comemorar a vida.
E como diria o Ronaldão, com sua lista imensa, "é pros mais chegados"...
Mas no nosso caso, é café com poesia que está no ar, nas paredes, na comida bem preparada, e no desejo de que o mundo fique melhor, te esperamos com alegria!

                 A bela fachada do Café Castro Alves em foto de Helder Ferrer.
As delícias da Chef Lua Lima... quem resiste?

Castro Alves tinha 17 anos, era estudante da Faculdade de Direito do Recife, militante e poeta republicano abolicionista. Escreveu o poema O povo ao poder em 1864. Suas palavras ganhavam força de gesto para protestar contra a repressão policial em um comício e a prisão do jornalista paraibano Antonio Borges da Fonseca.
149 anos depois, as manifestações em São Paulo, Rio de Janeiro, no Recife e todas as outras cidades brasileiras, e o confronto dos manifestantes com o aparato policial, que resultou em violência e repressão, mostram que o poema vibra nas reivindicações por liberdade, justiça, e direitos básicos.


O POVO AO PODER
Quando nas praças s’eleva
Do povo a sublime voz…
Um raio ilumina a treva
O Cristo assombra o algoz…

Que o gigante da calçada
De pé sobre a barricada
Desgrenhado, enorme, e nu
Em Roma é Catão ou Mário,
É Jesus sobre o Cálvario,
É Garibaldi ou Kosshut.

A praça! A praça é do povo
Como o céu é do condor
É o antro onde a liberdade
Cria águias em seu calor.
Senhor!… pois quereis a praça?
Desgraçada a populaça
Só tem a rua de seu…
Ninguém vos rouba os castelos
Tendes palácios tão belos…
Deixai a terra ao Anteu.

Na tortura, na fogueira…
Nas tocas da
inquisição
Chiava o ferro na carne
Porém gritava a aflição.
Pois bem…nest’hora poluta
Nós bebemos a cicuta
Sufocados no estertor;
Deixai-nos soltar um grito
Que topando no infinito
Talvez desperte o Senhor.


A palavra! Vós roubais-la
Aos lábios da multidão
Dizeis, senhores, à lava
Que não rompa do vulcão.
Mas qu’infâmia! Ai, velha Roma,
Ai, cidade de Vendoma,
Ai, mundos de cem heróis,
Dizei, cidades de pedra,
Onde a liberdade medra
Do porvir aos arrebóis.


Dizei, quando a voz dos Gracos
Tapou a destra da lei?
Onde a toga tribunícia
Foi calcada aos pés do rei?
Fala, soberba Inglaterra,
Do sul ao teu pobre irmão;
Dos teus tribunos que é feito?
Tu guarda-os no largo peito
Não no lodo da prisão.

No entanto em sombras tremendas
Descansa extinta a nação
Fria e treda como o morto.
E vós, que sentis-lhes os pulso
Apenas tremer convulso
Nas extremas contorções…
Não deixais que o filho louco
Grite “oh! Mãe, descansa um pouco
Sobre os nossos corações”.

 
Mas embalde… Que o direito
Não é pasto de punhal.
Nem a patas de cavalos
Se faz um crime legal…
Ah! Não há muitos setembros,
Da plebe doem os membros
No chicote do poder,
E o momento é malfadado
Quando o povo ensangüentado
Diz: já não posso sofrer.

Pois bem! Nós que caminhamos
Do futuro para a luz,
Nós que o Calvário escalamos
Levando nos ombros a cruz,
Que do presente no escuro
Só temos fé no futuro,
Como alvorada do bem,
Como Laocoonte esmagado
Morreremos coroado
Erguendo os olhos além.
 
 

Irmão da terra da América,
Filhos do solo da cruz,
Erguei as frontes altivas,
Bebei torrentes de luz…
Ai! Soberba populaça,
Dos nossos velhos Catões,
Lançai um protesto, ó povo,
Protesto que o mundo novo
Manda aos tronos e às nações.

Castro Alves, Recife, 1864.


                                  Lua Lima, Helder Ferrer e Ivana Moura.
Cafeteria e Restaurante Galeria Café Castro Alves
Rua do Lima, 280 - Santo Amaro - Recife.
Info: +55-81-9232.7795