quinta-feira, 17 de novembro de 2011

FERNANDO FERREIRA DE ARAÚJO::NA LISTA DOS 100 BRASILEIROS MAIS INFLUENTES DE NOVA IORQUE.

O Artista Plástico pernambucano Fernando Ferreira de Araújo, atualmente residindo em São Paulo, prepara-se para mais uma mostra individual. Desta vez será no MAC - Museu de Arte contemporânea - Olinda PE. A abertura está prevista para Março de 2012. A exemplo da exposição individual "Humanscapes", no Centro Cultural Correios Recife - outubro-novembro 2010 - esta exposição terá como base a sua marca pessoal no processo de desconstrução ante a percepção das formas, proporcionando elementos em busca do autoconhecimento e caminhos estéticos. Cada ângulo abre uma nova dimensão para o olhar e questionamentos plásticos com fortes intervenções pictóricas com pastas de tintas intensas nos seus movimentos gestuais. Falar do seu trabalho sem pensar no próprio artista, e na sua trajetória, fica difícil para mim, pois tenho o privilégio de também conhecer a alma do artista, de poder mergulhar na sua obra e tornar esta viagem ainda mais fascinante.

Centro Cultural Correios
Toda vez que vou a São Paulo é um prazer especial encontrá-lo e desta vez ele não escapou de me dar uma breve entrevista. Observando a sua obra me deparo involuntariamente à contemplação da sua linguagem escultórica, que me leva a questionamentos internos, uma viagem ao inconsciente que interfere diretamente no meu consciente. Isto é de fato o reflexo da sua forte essência expressionista. A sua obra leva o observador a responder de forma livre às suas próprias indagações e questionamentos sobre a perspectiva da obra.  

Eu visitando Fernando em SP
Apesar de falar pouco sobre as suas conquistas e manter uma aura reclusa, Fernando é um artista metropolitano que viveu por quase oito anos em Nova Iorque e aonde mantém seu nome no cenário internacional com várias mostras nos EUA, Europa e Brasil. 


Em 2010 teve seu nome listado entre os 100 brasileiros mais influentes de Nova Iorque, em edição especial da Vogue em parceria com a BrazilFoundation, ao lado de nomes como Bebel Gilberto, Gisele Bundchen, Carlos Miele, Fernanda Motta, Francisco Costa (Calvin Klein), Leona Forman e Vik Muniz. 

Lendo alguns textos de alguns críticos de arte, sobre a sua obra, tomei aqui a liberdade de reproduzir dois seguimentos.  Fernando responde aqui também algumas perguntas de forma descontraída e transparente, ao mesmo tempo em que apresento obras de várias épocas e fases da sua carreira. Em todas, independente do tema, reconhecemos nitidametne a caligrafia gestual do artista.

 "A obra de Fernando Ferreira de Araújo ressalta a forma poética de creditar características humanas, como emoções, sentimentos e sensações, a objetos inanimados e a própria natureza. As séries de Ferreira de Araújo são tanto evocativas como inspiradas nas experiências vividas na sua terra natal, Brasil, e ao mesmo tempo carregadas da energia e vivência como artista prolífico e contemporâneo em Nova Iorque. As suas pinceladas soltas captam e capturam as mudanças do mundo natural no seu interior, levando a uma reflexão quase que psicológica da sua obra. Construindo, destruindo e reconstruindo através de cores, sombras e tonalidades, as formas se mexem, migram e se misturam numa enorme massa, onde a luz é ao mesmo tempo refletida e refratada, dando vida a uma atmosfera sóbria e sensual. Através do seu traço gestual e marcante e, de um "bleeding" e "dripping" peculiar, percebe-se uma constante evolução na sua obra que nos leva a desenvolver uma relação própria onde a imaginação é mais do que nunca livre para criar uma leitura subjetiva do tema associado à imagem. Com uma linguagem e definição madura,  suas pinceladas ágeis, gestuais - expressionistas -  buscam uma abstração pictórica, sem sair da objetividade do tema,   mostrando uma trajetória sólida e consistente. Fernando busca não se associar a rótulos ou movimentos, no entanto, ao observar suas obras fica difícil não perceber a  forte característica do Expressionismo Abstrato Americano”

Hallie Cohen  - Chair, Art Department, Marymount Manhattan College, and 
Curator of The Philoctetes Center New York, NY  
Obra da Serie "Humanscapes"
"A pintura de Fernando Ferreira de Araujo não é feita apenas para gratificar a retina, mas principalmente para plasmar a alma poética da urbe, onde estão seus personagens pintados como retratos derramados, corações grafitados, verbos, setas e sinais garatujados num guardanapo de botequim, manchas de mofo na parede, ruínas e solidão.Observando o conjunto da obra, na maioria em grandes dimensões, sentimos uma profunda influência das raízes do inconsciente e uma intensa reflexão da condição humana. Encontramos em suas obras  traços densos e esculturais que remetem o espectador a uma análise mais próxima da matéria pictórica e da concepção orgânica e visceral do pintor sobre o seu trabalho." 

Raul Córdula
Membro da ABCA - Associação Brasileira de Criticos de Arte
Obras da Serie "Humanscapes"



BETÂNIA CANECA PERGUNTA:

BC: Quando você começou a pintar? 

FFA: Informalmente pinto desde o final dos anos 80 quando fui selecionado pelo Salão de Novos do Museu do Estado de Pernambuco em 89. Mas a pintura sempre esteve perto de mim. Aos 14 anos tive minha primeira aula e curso de arte com o mestre Pierre Chalita, quando ainda morava em Maceió. Além da influência do meu irmão mais velho que era um excelente pintor. 
 
Obras da Serie "Caterpillar".
 


BC: Mas quando foi que você assumiu a pintura de forma profissional? 

FFA: Tudo tomou outro rumo por volta de 2001-2002. Doze anos depois. Precisei sair do meu eixo, do meu mundo para recomeçar de onde havia parado. Tornei-me membro do The Art Student League of New York e em 2003 me mudei para Nova Iorque onde tive muita sorte, conheci pessoas certas nas hora certa. Comecei a dar importância aos sinais.

Obra da Serie "Caterpillar"
BC: Como assim aos sinais? 

FFA: Sim, sinais. Pois acho que a vida nos mostra constantemente sinais e cabe a nós reconhecê-los, e depois segui-los ou não. Lembro que tive vários sinais nos anos 80 e, apesar de reconhecer alguns, não segui nenhum. Mas me marcaram.

Obras da Serie "Crossroad"
BC: Você poderia citar alguns exemplos? 

FFA: Claro. O próprio Salão do Museu do Estado do qual fui selecionado mostrava que tinha uma trajetória a seguir. Na verdade fui praticamente empurrado na competição pelo saudoso amigo e grande artista Crisaldo Moraes. Crisaldo foi um grande incentivador, sempre olhava a minha pintura de forma parecer estar contemplando o desconhecido para depois se encontrar. Cheguei a expor na galeria dele em 89 numa coletiva e em São Paulo, através dele, numa coletiva também na Paulo Figueiredo em 90.
Mas voltando aos sinais... Não encarava nada disto como dicas que  poderia traçar o meu caminho. Nem mesmo quando ouvi alguns anos depois de Marcontonio uma frase que me marcou. Lembro dele olhando para um quadro meu, que dois amigos me forçaram a mostrar, e dizendo: “Quando um dia você souber do que você é capaz, e principalmente quem você de fato é quero que me procure, pois nenhuma galeria, ou art dealer irá destinar um minuto do seu tempo se você não enxerga em si o seu potencial, nem mesmo que o mundo inteiro enxergue”. Em Nova Iorque ouvia muitas coisas semelhantes, as pessoas do ramo precisavam ver consistência, perseverança. Repetição, reinvenção do mesmo tema sobre si próprio. Isto é ser profissional, mesmo que no início não se viva da arte. Tive um contrato de trabalho em Nova Iorque como Project Manager em uma firma de Interior Design. Isto foi também outro sinal, o proprietário da firma é um artista com um potencial enorme, um dos melhores, mas não se permite mergulhar  neste universo. Via frustração nele. Igual a mim quando tive por 10 anos minha fábrica e lojas de roupas. Via-me nele, e mesmo trabalhando 8 horas por dia,  até equando foi necessário, não me permiti não buscar as oportunidades em NY. Sou muito grato por esta chance, me vi de fora, longe do meio eixo. E refletir sobre estes sinais. 

Obra da Serie "Sugarcane Fields"

BB: Como foi a sua volta ao Brasil? 

FFA: O mundo das artes aqui é muito diferente. Em Nova Iorque as coisas acontecem bem mais rápidas, e o universo é enorme, por isto a sensação de estarmos sempre começando é grande. Aqui as coisas são mais lentas, mas se tem uma noção mais nítida de uma trajetória a seguir, exatamente por ser um universo menor, mais fácil de entender como tudo começa e termina. Financeiramente falando não se pode comparar, não posso reclamar das oportunidades que tenho aqui, do mercado que venho conquistando, mas não resta dúvidas que as vendas lá fora ainda são bem mais representativas.  

Obra da Serie "Sugarcane Fields"
 BB: Você tem galerias lhe representando aqui e fora?  

FFA: Sim, nos EU tenho três que me representam, duas em NY e uma em Stamford, CT. Aqui no Brasil tenho em Recife a Galeria Uffici e em São Paulo a Mônica Filgueiras e Eduardo Machado Galeria. A união de forças de Eduardo e Mônica veio agregar muito ao mercado de arte como um todo. Mônica despensa qualquer apresentação, na verdade a figura dela se confunde com o próprio mercado de arte brasileira. Um ícone eu diria. Eduardo por sua vez, volta ao seu elemento natural, as artes. Onde já teve galeria anos atrás. Passou 25 anos como diretor da Artefacto e hoje se dedica mais as artes, apesar de franqueado da Artefacto Recife. Uma pessoa que conhece o mercado atual como ninguém. Ou seja, um casamento perfeito.

Obra da Serie "Sugarcane Fields"
BC: Como se encontra o mercado de arte hoje para a pintura?
FFA: Eu diria que a retomada da pintura é uma fato concreto. Até pouco tempo a pintura, dita retiniana, era vista de forma diminuta por quem se achava no direito ou dever de ditar as regras. Mas como diz o ditado: "Pode-se se enganar por muito tempo mas jamais por todo tempo" a pintura passa a retomar o seu verdadeiro papel.

Obra da Serie "Sugarcane Fields" - Acervo do MAC

BC: O que você diria para quem está começando? 

FFA: Que a persistência é fundamental na busca da identidade e caligrafia pessoal do artista. Que não se deixe abater por não viver da arte no início. É para isto que existe empregos que pagam as contas, para poder ser livre algumas horas e viver para poder pintar, ao invés de ser escravo da pintura e ter que pintar para viver.