domingo, 1 de dezembro de 2013

ZURRIBURI::ANTON STEENBOOCK & GABRIELA GUSMÃO::LARGO DAS ARTES::05/12::RIO DE JANEIRO-BRASIL.


O Largo Das Artes e a Secretaria Municipal da Cultura do Rio de Janeiro convidam para a exposição ZURRIBURI - sujeito à toa, de Anton Steenbock e Gabriela Gusmão.

Com curadoria de Marta Mestre, ZURRIBURI reúne obras e instalações concebidas pelo artista alemão e pela carioca, combinando música, elementos vegetais e suportes variados.

Abertura dia 05 de dezembro, 19h.
Rua Luís de Camões, 2, Largo de São Francisco, Centro, Rio de Janeiro.

De 6 de dezembro a 25 de Janeiro.
Terça a Sexta, 12h-18h; Sábado, 12h-17h.
Telefone (21) 2224 2985.


Gabriela e Anton sujeitos à toa

Apenas os sujeitos que trabalham numa solidão inevitavelmente absoluta são capazes de povoá-la, não de sonhos, fantasias ou projetos, mas de encontros. “Encontram-se pessoas (e às vezes sem as conhecer ou jamais tê-las visto), mas também movimentos, idéias, acontecimentos, entidades”, escreve Deleuze.
Anton Steenbock (1984) e Gabriela Gusmão (1973) têm vindo a ter este tipo de encontros solitários de movimentos, idéias, acontecimentos e entidades desde há poucos anos, mas com freqüente regularidade nos últimos meses.

Artistas de gerações e percursos distintos, formados em realidades geográficas “antípodas”, a Alemanha e o Brasil, eles partilham exíguos 30 metros quadrados de um mesmo atelier, no Centro do Rio de Janeiro.
O que os une não são as idéias comuns, nem as pesquisas a que estão dedicados, mas processos de trabalho semelhantes, e isso dá-nos a possibilidade de falarmos em alguma coisa que está entre os dois e corre numa direção paralela, como um ziguezague, uma linha serpentinada, um vai-e-vem.

Para os nosso encontros de trabalho, foi Gabriela que deu o mote ao trazer dois enigmas para decifrar que lera num conto de Jorge Luis Borges: “zurriburi” e “sujeito à toa”. Traduzimos livremente estas duas expressões, procurando compor um chão sem raízes nem sedimentações (a música livre de seus cipós aéreos entrando na prensa artesanal de Gabriela), mas com sustentação mínima para orientar a ação (o maestro invisível que rege a partitura atonal de Anton Steenbock).

“Zurriburi” que é um quase ruído de linguagem, um barulho – zurrrriburiiiii -, mas que também se refere a um sujeito “desprezível” ou “menor” mostrando-se uma expressão feliz para um exercício de tradução entre uma brasileira que vive no mundo, um alemão que se achou aqui e uma portuguesa no fluxo.
Copio aqui um pouco da nossa troca e nossos (des)encontros:

Anton: oi queridos eu estou com o conceito mais elaborado agora - vou tentar escreve-lo hoje à noite e mando por email.... Mas esta ficando legal!
- também já consegui arrumar o motor de para-brisa (foi uma missão!!!) e na segunda vou fazer os primeiros testes.
Dei mais uma olhada para entender melhor a palavra “sujeito à toa”;) acho que entendi rs:
Não poderá significar, em outras palavras, “sujeito por coincidência” ?!?!

Gabriela: Para mim é quem está à disposição de situações inesperadas, entregue aos devaneios e às possibilidades de descobertas extraordinárias (...). Ele anda pronto para viver experiências sincrônicas ou "coincidentes". O significado que você encontrou tem total fundamento. Reconheço também a idéia de alguém que anda sem destino definido, a vagar, e assim se põe a devanear. Sujeito à toa, não é necessariamente a pessoa que está à toa, mas a pessoa que está sujeita a andar à toa. Um Zurriburi anda em estado de devaneio em meio à multidão ou em paisagens idílicas e pode assim, esbarrar numa boa idéia ou numa melodia. Eu esbarrei em uma, que é o "silêncio de um sujeito à toa". Essa minha mensagem chegou para explicar ou para confundir?



Marta: Olá Gabi e Anton. Apesar de ser muito sugestivo o título da Gabi, é necessária muita ginástica e retórica 
para relacionar Zurriburi com a "idiotia" dostoievskiana e o "sujeito à toa". Ainda assim, vejo neste terreno baldio a maior possibilidade de construirmos sentidos, ainda que provisórios. Tem alguma coisa nisto de voltar a aprender a falar, e não deixo de pensar que a arte, os artistas dão forma a uma indeterminação. Como os idiotas, os “parvos” ou até mesmo os eremitas cristãos que se afastavam para viver outro tipo de experiência no mundo, também os artistas têm uma singularidade própria, frágil e provisória também.
Vejo também nestas nossas tentativas de “edificarmos” algo que é carregado de naturezas provisórias (a começar pela própria linguagem), uma marca cultural muito brasileira, e por isso muito portuguesa, que atravessa a formação do Brasil, e que se alarga ao desconhecimento que na contemporaneidade ainda temos uns dos outros.

Não chegamos a quaisquer conclusões, e disparam-se pontos de partida sem avistar pontos de chegada, tendo o trabalho acontecido até à montagem nas imprevisíveis direções que formam a sua imprevisível pertinência. A maior parte das vezes acontece assim.

Contudo, durante todo o tempo deste nosso encontro não parei de tentar encaixar um elemento, que os próprios artistas trouxeram como potencial elo de ligação jamais comunicado: as gaivotas. No trabalho de Gabriela Gusmão ganharam corpo em grandes chapas metálicas na parede exterior da galeria Gentil Carioca (2012), e no trabalho de Anton surgiram na publicação “Gaivotas”, contendo fotografias de pichações anônimas das ruas do Rio de Janeiro (2010).

Existia agora um elemento “comunicante”, e não mais o silencio do encontro. Através da gaivota, elemento de interesse comum, cada um encontrava no outro num devir único que não é comum aos dois, mas que os afeta e os aproxima.

Fiquei a pensar que, mesmo não sendo uma chave de leitura sobre o trabalho de ambos, faz algum sentido que sejam pássaros o que os aproxima. Também eles sujeitos à toa, na liberdade dos céus e quebrando as regras, capazes de longas distancias, percursos de solidão, como as pessoas, como os artistas.

- Marta Mestre, Rio de Janeiro, Novembro, 2013

O Largo das Artes é um espaço de arte contemporânea no Centro do Rio de Janeiro com ateliês, um programa internacional de residências, uma galeria que acolhe exposições propostas por curadores convidados e uma agenda de eventos com wokshops, projeções e grupos de estudo.


BIOS

Anton Steenbock

Nascido em Frankfurt, Alemanha, em 1984, Anton Steenbock vive e trabalha no Rio de Janeiro, onde fez o Curso de Aprofundamento no Parque Lage (EAV). Com mestrado em Belas Artes em 2011/2012 em Berlin (UDK), foi aluno de Lothar Baumgarten. Em 2013, realizou individual na Galeria Pilar, em São Paulo, e participou de importantes coletivas, como "Play", (Museu do Bispo de Rosário de Arte Contemporânea, Rio de Janeiro), "Becoming", de Ai Weiwei e "Unaccustomed", de Mark Fox (Galeria Pilar, São Paulo), "Wüste ,Heimat, Herberge", (Kunstverein, Aschersleben), "Sete" (Casamata, Rio de Janeiro), "Deus não Surfa", curadoria de Marta Mestre e Santiago G. Navarro ( AP601 , Rio de Janeiro) e "Spätwerke der Feierabendkultur" (MBKL Museo de arte contemporanea, Leipzig).

Gabriela Gusmão

Gabriela Gusmão é artista visual, com intervenções voltadas para fotografia e filmagem em suporte digital e analógico. Mestre em estruturas ambientais urbanas pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAUUSP, atualmente desenvolve MFA no Transart Institute. Participa de exposições coletivas e individuais desde 2002, em diversas cidades do Brasil, além de Portugal, Espanha, França e Holanda. Participou de residências artísticas e apresentou seu trabalho em palestras e congressos na Eslovênia, Itália, França, Espanha, Chipre e Turquia. Realizou diversas intervenções urbanas em espaços públicos e idealizou o projeto Urbanário. É autora dos livros Rua dos Inventos e Virgula no Infinito. 


Largo das Artes
Rua Luís de Camões, 2 - Largo de São Francisco - Rio de Janeiro.
Info: +55-21-22242985