domingo, 25 de março de 2012

A MUSICA POP BEBE NA FONTE DA HISTÓRIA ANTIGA.

Assisti ao show da cantora Madonna no intervalo do XLVI Super Bowl – a final do campeonato de futebol americano dos Estados Unidos, e também o intervalo de TV mais caro da programação do planeta – percebi como a indústria da música pop bebe na fonte da antiguidade, mostrando que o passado distante  inspira muitas vezes a arte da sociedade contemporânea.

                                                         Madonna.
                                            Elizabeth Taylor em Cleopatra.

Madonna chegou ao estádio, em um trono cercado por estandartes utilizados pelos romanos em suas legiões e ladeado por duas esfinges egípcias. À sua frente uma verdadeira procissão de sacerdotisas carregando ânforas, era seguida por soldados que puxavam o trono, vestidos com as tipicas armaduras e elmos usados nos tempos dos césares.


Madonna na apresentação no XLVI Super Bowl usou túnica e coroa da deusa Ísis, esfinges e soldados romanos. A cantora vestia uma túnica dourada e uma coroa estilizada que remetiam à deusa egípcia Ísis. Em uma cena quase identica ao clássico filme de Hollywood “Cleópatra”, estrelado por Elizabeth Taylor, Madonna chegou ao palco onde haviam dançarinos representando figuras mitológicas como Eros e Hermes, além de outros vestidos como guerreiros.


Não foi a primeira vez que Madonna se valeu da antiguidade para inspirar seus musicais. Em 1993, durante a turnê “The Girlie Show” ela assumiu o papel de uma deusa, com direito a uma serpente em cristal em sua coroa, como os Uraeus que adornavam o fronte dos toucados dos faraós egípcios.

                                 Michael Jackson, Eddie Murphy e Iman.

A produção do clipe acertou na reconstituição de época – com as devidas licenças criativas, como o bigode ostentado pelo faraó. São mostrados ambientes do palácio, as pirâmides, jóias, mobiliários, o mercado, pinturas, os funcionários a serviço da corte. Animais ligados às divindades egípcias como o falcão de Hórus e o gato de Bastet, também aparecem durante o clipe. A própria roupa de Michael Jackson foi inspirada na indumentária dos reis egípcios: um peitoral dourado em forma de falcão e um saiote de linho fino plissado. Toda a história se desenrola acompanhada por uma difícil coreografia também inspirada na cultura egípcia. Michael Jackson também buscou inspiração na antiguidade, quando lançou o clipe da canção “Remember The Time”, em 1992. Ambientado na corte egípcia, mostra um entediado faraó Ramsés juntamente com sua bela Grande Esposa Real – interpretados por Eddie Murphy e pela modelo Iman, que é casada com David Bowie – procurando diversão. Após algumas tentativas mal-sucedidas, onde um malabarista foi lançado aos leões e um engolidor de fogo terminou degolado por não conseguirem entreter os soberanos, Jackson surge como um feiticeiro que tem a audácia de beijar a mão da rainha despertando a ira do faraó.


A australiana Kylie Minogue, em 2005, na turnê Showgirl, havia um número musical onde a cantora era acompanhada por bailarinos vestidos como gladiadores romanos. E em 2011 ela mais uma vez, se inspirou na antiguidade, especificamente na mitologia grega, para criar a turnê “Aphrodite World Tour”. No número de abertura do show, Kylie recriou a lenda do surgimento da deusa grega Afrodite. Esse nascimento teria sido resultado da castração de Urano por Cronos que atirou o pênis decepado na água do mar onde o esperma do deus deu origem a Afrodite. Segundo as palavras de Hesíodo1: “o pênis (…) aí muito boiou na planície, ao redor branca espuma da imortal carne ejaculava-se, dela uma virgem criou-se”. Ela em seguida flutuou até as margens sobre uma concha de vieira onde foi vestida e adornada.

No show apareceram outras referências a antiguidade: a cantora dança cercada por bailarinos, vestidos com as armaduras e capacetes dos hoplitas, os guerreiros gregos conhecidos por atuarem utilizando a estratégia militar das falanges. Estes carregam, inclusive, na coreografia os escudos que eram usados na antiguidade por estes soldados para protegerem seus companheiros na formação militar. Em outro número, Kylie surge sobre uma biga, simulando um cortejo que lembra muito um triunfo romano, cerimônia que ocorria quando as legiões conquistavam uma nova região e traziam para Roma prisioneiros e riquezas que eram exibidas em uma procissão.

Em 2002, Cher também se valeu da cultura antiga para a turnê “The Farewell Tour”. O espetáculo possui várias referências a cultura indiana com figurinos coloridos, véus, entoação de mantras e até mesmo um elefante no qual a cantora adentra o palco vestida como uma princesa hindu.

E como disse Mao Tse Tung: Nada se cria, tudo se copia.

Fotos: Divulgação.