sexta-feira, 19 de julho de 2013

CARLOS ARAUJO::"GÊNESIS"::SERGIO GONÇALVES GALERIA::23/07::RIO DE JANEIRO-BRASIL.


Abertura da Exposição nesta terça-feira das 16 às 21h, com apresentação de obras reproduzidas no livro do artista.

Texto: Renata Gesomino.

A virtú renascentista nas linhas e manchas de Carlos Araujo: Consubstanciação da matéria pictórica.

A pintura em sua dimensão clássica – toda forma de beleza em uma única palavra: Concinnitas. Silhuetas diversas pautadas em uma narrativa que evoca a religiosidade anacrônica renascentista: sobriedade sacra na medida de todas as coisas.
A conservação de linhas que brotam de manchas insuspeitas, mas, sempre com elegância e precisão. Pode-se dizer que a pintura de Araujo se apresenta como uma epifania. Provoca um íntimo arrebatamento e a seguinte questão: Um homem de virtú, segundo Maquiavel, ou o que se impõe é a virtù ressignificada de Vitruvius e Alberti? De todo modo, Araujo só pode ser compreendido através da escolha de sua paleta suave e das linhas finas que partem, indubitavelmente, de sua devoção ao trabalho.
Como absorver a obra de temática bíblica e proporção épica de Carlos Araujo, em “tempos de fratura”, segundo Hobsbawn?
Não parece tarefa simples, posto que vivemos numa contemporaneidade de urgências, em campos de multiplicidade, que muitas vezes nos roubam horas de contemplação. Deixamos de ser espírito para sermos apenas corpo ou nunca deixamos de ser espírito para sermos apenas corpo? Eis a meditação.
Diante das pinturas de Araujo, somos resgatados deste tempo presente e lançados num vórtice onde a própria história da pintura parece se confundir ao atravessar os ciclos entre a forma clássica e anticlássica.
Suas pinturas nos últimos 20 anos abordam temas bíblicos. Nelas é possível encontrar a narrativa visual que encarna anjos, ceias, preces e enigmas, entre os contornos lineares que parecem esvanecer revelando sutilmente a presença em meio a tons ocres e azuis de personagens sagrados.
A cor marrom natural da madeira que é utilizada como suporte e colada posteriormente na própria tela parece buscar sempre uma aproximação com os tons terrosos e amarelos que conferem um peso temporal adicional em suas obras. Muitas vezes, as pinturas de Araujo ganham um aspecto de croquis, como obras inacabadas, que fazem lembrar, invariavelmente a singular produção de Leonardo DaVinci, quase sempre deixando como espólio um conjunto de obras também inacabadas.
Este processo só aguça ainda mais a curiosidade, oferecendo a possibilidade ao observador de completar internamente, a partir de uma profunda meditação, o restante das imagens, cenas ou acontecimentos que se encontram parcialmente sugeridos.
Nesta escolha harmônica de cores associadas a um conjunto de pinceladas que parecem varrer suavemente a composição, é possível afirmar a maestria e domínio técnico de Araujo, visto que, é imprescindível conhecer o comportamento volátil da tinta óleo para explorá-lo em seu emplastramento e também em sua aquosidade, como fazem os grandes aquarelistas.
Tirando partido desta dicotomia, o artista desenvolve cenas atmosféricas que pairam fantasmagoricamente sobre uma superfície dura. Das transparências obtidas, quiçá pelo uso ostensivo de óleo de linhaça, se interpõem veladuras oníricas capazes de apreender passagens místicas, eventos sacros, e outras liturgias.
E, uma vez mais a pergunta se coloca durante a contemplação de suas obras: Deixamos de ser espírito para sermos apenas corpo ou nunca deixamos de ser espírito para sermos apenas corpo?
- Transubstanciação ou consubstanciação da matéria pictórica por uma via estética.


Exposição e lançamento do livro "Gênesis"
Sergio Gonçalves Galeria
Terça-feira, dia 23 de julho das 16h às 21h.
Rua do Rosário, 38 - Centro - Rio de Janeiro.